
Rio está muito abaixo, com a água chegando no joelho das pessoas
A seca que atinge o município de Xique-Xique (a 586 km de Salvador), no Vale do São Francisco, Norte da Bahia, há 120 dias vem causando inúmeros transtornos para os moradores e ainda pode piorar já que a cidade corre o risco de ficar totalmente sem água.
O motivo é a baixa no volume de água do canal Guaxinim, um dos braços do Rio São Francisco, responsável pelo abastecimento do local. A informação foi passada pelo diretor do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), Edgardo Pessoa Filho, que está preocupado com o nível de água do canal, que tem 5 quilômetros de extensão e chega a uma profundidade de 2 metros, mas atualmente não chega a 40 cm de altura. “Esta seca é a pior que já registramos. Nos últimos 30 dias o rio já baixou 50 cm. Acredito que se a situação não for resolvida, ficaremos sem água nos próximo 30 dias”, afirmou.
Ele diz que as famílias que residem na zona rural já começaram a sentir na pele as consequências da seca. Muitas delas sobrevivem da agricultura familiar e da pesca, além disso, utilizam o canal para a locomoção, uma vez que a maioria reside em ilhas e depende dos barcos para percorrer longas distâncias. “Muitas famílias já começam a não ter como se locomover nas embarcações, pois ficam encalhadas. Ele andam cerca de 5 km para poder chegar a cidade. Os que podem, pagam e fretam veículos para se locomover”, disse.
Um exemplo é o pescador Élio de Souza Marques que todos os dias enfrenta 4 quilômetros a pé ou de bicicleta para chegar ao local onde ele deixa as embarcações. “Como o canal está com o nível baixo deixo o barco longe daqui e ainda corro o risco de ter a embarcação roubada ou danificada. Na verdade a pesca sustentava a minha família, mas atualmente estou sobrevivendo do bolsa família que minha esposa recebe, pois para ir pescar está cada vez mais difícil”, contou.
O pescador se emociona quando lembra do que conseguiu tirar das águas do rio. “Entro no rio e vejo que a água que me cobria, hoje chega ao meu joelho. Isso me dá uma tristeza danada. A nossa sobrevivência vem daqui. Se não temos água para consumo, como faremos? Estou perdendo o sono com toda esta situação. Espero que eles (governantes) possam fazer algo urgente para resolver este problema”, apelou.
Emergencial
De acordo com Edgardo Filho, se o problema não for resolvido no prazo de 30 dias, a situação ficará pior, pois cerca de 35 mil pessoas que residem na zona urbana da cidade ficarão sem água e como alternativa terão que percorrer uma distância de mais de 5 km para conseguí-la. “A situação é alarmante. Não estamos brincando. Sou comerciante e te digo que já está afetando a economia da cidade. Temos que ter uma providência urgente”, falou.
Ele cita duas opções como solução para o problema. A primeira seria que chovesse na cabeceira do rio, em Minas Gerais, para que o volume suba e a comunicação com o canal não deixe de existir. A outra seria a dragagem do canal, cujo principal objetivo é aumentar sua profundidade. No entanto, este serviço envolve recursos que nem a prefeitura e nem a SAAE dispõem.
Ele diz que a Companhia de Desenvolvimento do Vale São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF) tem um projeto aprovado para fazer um trabalho de dragagem, mas os serviços seriam iniciados pela cidade de Ibotirama. “A cidade fica a 300 km de Xique-Xique e isto demoraria, no mínimo, 90 a 120 dias para chegar aqui. Até lá o canal já secou”, destacou.
Na quarta-feira, 23, houve uma reunião com representantes da CODEVASF na cidade com o intuito de informar a real situação do canal do Guaxinim e pedir o empenho do Governo Federal para solucionar a situação. “Nós demos como sugestão que estas obras de dragagem sejam feitas emergencialmente aqui no canal e depois eles partem do ponto inicial lá em Ibotirama. Os representantes ficaram de passar a sugestão para as pessoas com poder de decisão e só nos resta aguardar, lembrando que o problema deve ser resolvido de forma emergencial para que não falte água para o consumo humano”, lembrou.
Em nota, a Codevasf afirmou que tem sempre se colocado à disposição para contribuir apontando soluções e alternativas que melhorem a qualidade de vida dessas populações. Também ressaltou que o presidente da instituição, Elmo Vaz, já se reuniu com autoridades para encontrar uma solução. Dentre elas, a realização de uma dragagem, em caráter emergencial, em pontos críticos de captação de água de modo a solucionar os problemas de abastecimento humano e de travessias de balsas na região afetada.