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quinta-feira, 10 de julho de 2014

Sete pecados do futebol brasileiro

Robinho celebra com Kaká, Adriano e Ronaldo gol contra o Chile na Copa de 2006 - Evaristo Sá / AFP/04-09-2005

BELO HORIZONTE — O futebol brasileiro está de joelhos, subjugado pela maior humilhação

de sua história, imposta pela ótima seleção da Alemanha, no gramado do Mineirão.
O resultado — impensáveis 7 a 1 —, comum em tempos paleolíticos do jogo,
está longe de ser trivial, mas, ao menos, oferece diagnósticos, úteis a quem estiver
interessado em contribuir com a suprema paixão dos nascidos
aqui. (Nunca será demais lembrar que o começo de qualquer cura está na admissão

da doença.) Alguns deles:

1. AS DIVISÕES DE BASE

O processo de formação dos futuros jogadores no Brasil conjuga profissionais despreparados
estruturas precárias, pressão por resultados e influência espúria de empresários.
O resultado está na cara: Neymar serve como exceção num cenário desértico de revelação
de talentos. Quando os meninos chegam ao fim da adolescência, precisam se entregar
a empresários que atuam nos clubes como abutres. Além disso, há um pensamento
generalizado de que a prosperidade está numa transferência ao exterior — e quanto
mais cedo, melhor. Os garotos saem do país ainda com a formação incompleta, e suas
deficiências se cristalizam. Para completar, o Brasil não enxerga alguns talentos, que só
se consolidam no exterior — o zagueiro David Luiz, que começou numa escolinha em
São Paulo, passou pelo Vitória, mas foi aparecer somente no Benfica, é o exemplo
mais eloquente.

2. O ATRASO DOS TÉCNICOS

Nenhum treinador brasileiro aparece nas cogitações para dirigir times europeus importantes.
Chamados de “professores” pelos bajuladores, eles só encontram abrigo em mercados
periféricos, como o mundo árabe e os países orientais. Está longe, novamente, de ser acaso
ou preconceito. Os brasileiros ficaram no passado em esquemas de jogo e métodos de
trabalho. Aqui, se ouve muito que “fulano entende os jogadores”, “sicrano sabe unir o grupo”,
“beltrano tem pulso forte”, mas a última novidade surgida por estas bandas talvez tenha sido a
coreografia de macaquices encenada pelos técnicos à beira do campo, jogo sim, jogo também.
Exemplos dos dois últimos técnicos da seleção: ano passado, Mano Menezes, à frente do
Flamengo, determinou que a equipe mudaria de vestiário no Maracanã para ele poder
“pressionar o bandeirinha”. Seu sucessor no comando do time canarinho, Luiz Felipe Scolari,
tinha como uma de suas armas na Copa o lançamento dos zagueiros direto para Fred tentar
ganhar de cabeça, de costas para os zagueiros.

3. PRECONCEITO CONTRA ESTRANGEIROS

À fraqueza endêmica dos treinadores soma-se o preconceito dos cartolas, que não consideram
a possibilidade de contratar um profissional estrangeiro para a seleção. Poucos clubes apostam
em técnicos de fora do país. Preferem a atitude estreita de demitir após resultados ruins,
mantendo ativa a ciranda dos mesmos nomes.

4. A GERAÇÃO PERDIDA

No caso específico da seleção atropelada pela Alemanha no Mineirão, alguns jovens talentos, como Neymar e Oscar, tiveram de assumir o papel de protagonistas na neurótica disputa da Copa em casa, porque a geração anterior a deles naufragou precocemente. Os experientes Adriano (32 anos), Kaká (também 32) e Robinho (30) entraram em decadência bem antes do Mundial brazuca e não houve a transição que tornaria tudo mais leve. A ascensão de Neymar, especialmente, teve de ser precipitada.

5. A ÉTICA DO JOGO

Os brasileiros, especialmente os que atuam no país, insistem em fazer do jogo um teatro
patético de simulações de faltas, investem exageradamente em reclamações e na pressão aos
juízes. Até outro dia, Neymar era criticado na Europa por se atirar, exagerando as entradas
que sofria. Os grandes times do Velho Continente ensinam, há algumas temporadas, que o
certo é, simplesmente, se empenhar em cada lance pela vitória. Sem atalhos. Lições que vêm
no bojo de placares como o da terça no Mineirão, mas ainda ignoradas pelos brasileiros.

6. OS MESMOS DE SEMPRE

No comando da CBF, um dirigente que milita no futebol há pelo menos 40 anos; à frente da seleção, o técnico de 2002 e o de 1994 (que era preparador físico em 1970). Se ao menos eles tivessem ideias novas... Mas não. Felipão repetiu, em 2014, o conceito de família que deu no penta conquistado em campos do Oriente. Ele, Parreira e José Maria Marin invocaram o discurso de “ninguém segura esse país” para turbinar o pré-Copa, garantindo que a conquista do hexa era quase uma formalidade, tamanho o poderio de nosso esquadrão. Para tudo se desmanchar na maior humilhação da seleção em todos os tempos.

7. O AMBIENTE DO FUTEBOL

Com as persistentes e impunes ações de torcidas organizadas violentas, cambistas invencíveis e cartolas cúmplices, somadas à omissão das autoridades, os cidadãos de bem vêm sendo afugentados dos estádios há décadas. Em clássicos, quase dá para cortar com uma faca o pesado clima de tensão, pela permanente possibilidade de um conflito entre facções de torcidas, dentro e fora dos estádios. Nas decisões, comprar ingresso é missão para super-herói, com energia para enfrentar filas que cruzam a madrugada em frente aos guichês ou superar os muitos esquemas da venda paralela. Assim, as famílias passaram a assistir ao futebol pela TV, privando as crianças da suprema diversão do estádio, fundamental para cultivar o amor pelo futebol.

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